sexta-feira, 24 de abril de 2015

Vigília em preparação à Solenidade da Sagrada Face - Fortaleza-CE

Neste último dia 23 de abril, celebramos a Vigília preparativa para as festividades em honra da Sagrada Face do Senhor. Foi um momento especial, no qual tivemos a oportunidade de contemplar a Face de Jesus em seu Mistério Pascal. Fizemos uma caminhada da Sexta-feira da Paixão ao Domingo de Páscoa, contemplando a Face sofrida e gloriosa do Senhor. Entre ambas contemplações, paramos diante do sepulcro vazio e beijamos (veneramos) a  réplica da Santa Síndone, que envolveu o corpo do Senhor quando este foi sepultado. Nele contemplamos a Imagem do Senhor impressa com sangue, sangue que fala da VIDA, não da morte, sempre da VIDA!

 

 

   

Programação da Solenidade da Sagrada Face

Estamos no "Belo mês de abril" como costumava chamar a nossa Inspiradora Madre Maria Pia Mastena. Belo porque nele celebramos a Solenidade da Sagrada Face de Jesus...

- Abaixo, a programação da Solenidade neste ano de 2015 nas Comunidades de Fortaleza-CE, neste ano refletiremos a temática: "O AMOR MAIOR" em comunhão com a Igreja que vive a ostensão da Síndone em Turim na Itália.

sábado, 18 de abril de 2015

Encontro Vocacional marcado

Para onde irei, para onde fugirei?
Vede Senhor, e conhece o meu coração!
Prova-me e conhece os meus sentimentos!
Vê se não ando por um caminho fatal,
e conduze-me pelo caminho eterno.
(Cf. Sl 139, 7;23,24)

Hoje, fala-se de pessoas sem um rumo certo, desorientadas. Não saber o PARA QUÊ é uma situação pior do que não saber o PORQUÊ... Sabemos poucos porquês. Estes não dependem de nós. O para quê, o sentido, a direção, em grande parte depende de nós. Podemos dar um sentido a essas situações!

Neste sentido, os Religiosos da Sagrada Face deseja favorecer, a você jovem, uma reflexão sobre suas inquietações e como nossas escolhas decidem nossa felicidade. Não deixe para pensar nisso depois, essa é a sua hora.


Vocação? Qual é a sua opção? 

Informações: 
O encontro acontecerá nos dias 25 e 26 de abril
Na Casa dos Religiosos da Sagrada Face (Rua Felismino Coelho, 49. Centro de Cajazeiras / PB)
Começará às 8h no sábado 25
Concluirá às 12h (com almoço) no domingo 26

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Face e Coração... Expressão externa e interna desse amor misericordioso de Jesus!

Celebramos a “Festa da Misericórdia”, festa instituída pelo próprio Jesus quando, na clausura de um Convento, o Senhor se digna aparecer a uma religiosa simples de nome Faustina Kowalska revelando-lhe a sua vontade: Eu desejo que haja a Festa da Misericórdia. Quero que essa Imagem, que pintarás com o pincel, seja benzida solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa, e esse domingo deve ser a Festa da Misericórdia” (Diário, 49; cf. 88; 280; 299b; 458; 742; 1048; 1517).
Jesus quis precisar desta pequena serva para expressar a toda humanidade o seu amor misericordioso, assim também Ele o faz conosco. É seu desejo que sejamos apóstolos da Misericórdia: Na Minha festa, na Festa da Misericórdia, percorrerás o mundo inteiro e trarás as almas que desfalecem à fonte da Minha misericórdia. Eu as curarei e fortalecerei” (D. 206).
A palavra MISERICÓRDIA (no grego: éleos; no hebraico: Hesed) tem origem latina e é formada pela junção de duas palavras: miserere (ter compaixão) e cordis (coração), em outras palavras podemos dizer que MISERICÓRDIA é uma “Ação do Coração”. Na Festa de hoje recordamos e celebramos justamente isso: a ação misericordiosa do Coração de Jesus por toda humanidade. Ele mesmo afirmou isso quando em uma das aparições a Santa Faustina, revelou-se, como vemos na Imagem, com o coração aberto: “Essa Festa saiu do mais íntimo da Minha misericórdia e está aprovada nas profundezas da Minha compaixão. Toda alma que crê e confia na Minha misericórdia irá alcançá-la”(D. 420; cf. 1042; 1073).
Nós, Família Religiosa da Sagrada Face, somos convidados a sermos Apóstolos da Divina Misericórdia. A bem-aventurada Maria Pia Mastena entendeu isso. Ela sabia que não se podia separar a devoção à Sagrada Face da devoção ao Sagrado Coração, por isso que inúmeras vezes ela, em seus escritos, dirige-se a este Coração. Mastena sabia que aquilo que expressamos no rosto é o que brota do mais profundo do nosso ser e com Jesus não podia ser diferente. A sua Santíssima Face era uma expressão viva dos sentimentos mais profundos do seu Santíssimo Coração. Essa certeza fazia com que Mastena desejasse ardentemente permanecer unida ao Coração de Jesus: “Unir-se coração a Coração com Jesus. Viver ao lado de Jesus... E Jesus viva em mim, sempre em mim... Sempre em meu coração!”. As chamas deste Coração eram para Mastena seguro refúgio, lugar de purificação, e altar onde ela mesma se oferecia inteiramente para a salvação da humanidade:“Permanecer fechada naquele amabilíssimo Coração, tenho intenção de oferecer a cada instante, tantas vezes quantos são os instantes que constituem a eternidade, o meu coração, o meu corpo, o meu espírito, a minha vontade, colocando tudo entre as ardentíssimas chamas daquele Divino Coração, para que tudo seja imolado para a sua glória e pela salvação do mundo...”.
O amor por Jesus era para Mastena combustível que a impulsionava para a humildade e não reconhecimento nas obras caridade, que a motivava nas dificuldades encorajando-a a não desistir nos pequenos fracassos cotidianos, mas antes de tudo oferecê-los a Jesus em reparação da tibieza de tantas almas: “Mortificar o desejo do reconhecimento nas obras de caridade é sofrer em união com o Sacratíssimo Coração de Jesus, tratado com tanta ingratidão, toda desatenção que, infelizmente, quase sempre aparecem depois de uma obra de bem”. O seu amor ao Coração de Jesus não era um amor egoísta. Não queria ela esse amor apenas para si mesma, era seu desejo que também outras almas fizessem a mesma experiência transformadora, por isso afirmava com tanto fervor: “Jesus meu, eu te amo... Amo-te! E, ao pronunciar estas palavras, queria que o meu coração ficasse inflamado, destruído pelo teu divino fogo. Queria que todos os corações ficassem envolvidos entre as chamas do teu Amor!”.
Sejamos Apóstolos desse Amor, façamos nossa a missão confiada por Jesus a Santa Faustina: A tua tarefa e obrigação é pedir aqui na Terra a misericórdia para o mundo inteiro. Nenhuma alma terá justificação, enquanto não se dirigir, com confiança, à Minha misericórdia.” (D. 570); “Desejo que a Festa da Misericórdia seja refúgio e abrigo para todas as almas, especialmente para os pecadores. Neste dia, estão abertas as entranhas da Minha misericórdia. Derramo todo um mar de graças sobre as almas que se aproximam da fonte da Minha misericórdia. [...] Que nenhuma alma tenha medo de se aproximar de Mim, ainda que seus pecados sejam como o escarlate. A Minha misericórdia é tão grande que, por toda a eternidade, nenhuma mente, nem humana, nem angélica a aprofundará. Tudo o que existe saiu das entranhas da Minha misericórdia.” (D. 699).
Olhemos para a Face de Jesus na cruz, cuja expressão é de profunda dor... desçamos o nosso olhar e contemplemos o lado aberto pela lança, o Coração transpassado do qual jorrou sangue e água. Face e Coração... Expressão externa e interna desse amor misericordioso! Corramos à fonte e saciemos a nossa sede de amor, e com Madre Mastena exclamemos: “Beber, beber continuamente lá, na fonte do divino amor. Inebriada pelo precioso vinho que germina as virgens, sacia na fonte da imaculada pureza, como não correr sobre as pegadas do Esposo Divino, seguindo-O... em tudo? Ó Jesus dá-me, dá-me do teu vinho; dá-me a água puríssima que jorra do Teu Coração transpassado!”

 “Ó sangue e água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em vós!”

Dannilo Luiz Rocha
Noviço dos Religiosos da S. Face
Fortaleza-CE

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Uma visita de alegria / Una visita di gioia

Dentro das festividades da Páscoa do Senhor que nos enche de um novo contentamento, pois traz de volta do Cristo Ressuscitado na grande alegria do seu Evangelho, recebemos no dia 07 de abril a visita da Irmã Severina Almeida (Ir. Neta), Secretária Geral da Congregação das Religiosas da Sagrada Face. Foi um momento de alegria numa prosa fraterna que nos trouxe as saudações e lembranças de nossa irmãs presentes na Itália. Ir. Neta é natural de Cajazeiras-PB e está atualmente residindo na Itália, na Casa Mãe das Religiosas da Sagrada Face.

Um irmão e a missão...

Há aproximadamente um ano, a Comunidade dos Religiosos da Sagrada Face presente em Cajazeiras-PB conta com a presença do Irmão Marcolino Alves. Ele, natural do Rio Grande do Norte, teve como cidade de origem a Serra de Martins, mas mudou-se posteriormente para Viçosa. Teve sua formação acadêmica e religiosa em Fortaleza-CE, na comunidade do noviciado, lugar onde fez seus Votos Simples de Castidade, Pobreza e Obediência, segundo as Constituições dos Religiosos da Sagrada Face e foi enviado para compor a Comunidade paraibana.

Chegou à terra do Sertanejo Padre Rolim a 26 de abril de 2014 (Festa da Sagrada Face) e por aqui começou a fazer sua missão de irmão, de filho de Madre Mastena. Com jeito simples e olhar sereno, o religioso foi abrindo seu espaço neste chão seco e árido, mas ao mesmo tempo, um terreno fértil de missão.

Seus Votos foram pronunciados na Festa do Patrono Universal da Igreja, São José, a 19 de março de 2014, na Capela de São Francisco de Assis em Fortaleza-CE. “São José foi aquele homem justo, de fé em Deus e que deu o seu sim. Sim aos projetos de Deus”, disse o Irmão.

Tendo passado o primeiro ano e tendo já renovado seus votos diante da Igreja, do povo e da Congregação, o Irmão Marcolino expressou os seus sentimentos como Religioso da Sagrada Face: “Há um ano, nesta grande Festa eu também dava o meu sim ao chamado de Deus, ‘Fala Senhor que teu servo escuta’, para mim é uma raça de Deus está respondendo ao seu chamado, dizer sim ao seu projeto e de estar nesta Família Religiosa da Sagrada Face”.

A vida de um religioso é um total “deixar-se moldar” pelas mãos do Senhor que convida a cada dia a responder novamente com a mesma intensidade o sim outrora pronunciado: “Sinto-me feliz neste primeiro ano como religioso, pude neste tempo fortificar minha vocação, vivenciando as diferentes realidades existentes em nosso meio, contemplando tantos rostos desfigurados”, expressou o Irmão.

A missão é itinerante e contínua, vivenciada passo-a-passo como um nômade que não tem lugar fixo e tempo determinado, mas aonde o Senhor chamar. 

“Sou grato a Deus pelo primeiro ano. Sei que não fiz tudo, pois a Messe do Senhor é grande”, disse o religioso pedindo ao Senhor que envie mais santas vocações religiosas e sacerdotais para o trabalho na Messe do Senhor.

A Missão

O Irmão Marcolino quando chegou à Comunidade desempenhou por alguns meses o trabalho de Secretário de uma Paróquia, lá ele pode experimentar um pouco do contato com as pessoas de diferentes realidades e a própria vivência pastoral daquela Paróquia Mariana. Contudo, sua missão foi concluída e estando mais disponível na Comunidade e para outras missões, teve a oportunidade de participar de uma semana de peregrinação com a Imagem de Nossa Senhora da Piedade (padroeira diocesana), que percorre todas as paróquias neste ano de Centenário Diocesano.

Sua participação se deu na Paróquia de São José na Cidade de Curral Velho-PB durante a última semana de fevereiro e início de março deste ano.

“Fazer missão em diferentes lugares é sempre uma experiência nova, é encontrar realidades diferentes, é encontrar obstáculos e conseguir superá-los com fé em Deus e saber que há pessoas à sua espera”.

Para ele, a missão foi de grande significado, experiência nunca antes vivida: “... foi sair da minha zona de conforto e partir como peregrino, como Maria, quando saiu de sua casa ao encontro de sua prima Izabel”.

O sentimento foi de imitar Maria quando percorreu as montanhas, “... era como se eu estivesse fazendo o mesmo caminho feito por Maria, pelas montanhas, por estradas tortuosas, de difícil acesso, o calor, o sol quente do nosso sertão paraibano”.

A missão tem sua alegria, mas tem os seus espinhos e assim vão se encontrando forças para a perseverança, entre esperanças e sombras. O Irmão Marcolino assim vivenciou: “Era Maria que nos encorajava, que confortava as tantas mães sofredoras e tantos homens e crianças que se emocionavam à chegada da Imagem em suas comunidades”, disse ele.

“Era emocionante contemplar nos rostos, as lágrimas de sofrimento que se misturavam de alegria, também quando recebiam os missionários e partilhavam aquilo que tinham de melhor”, completou.

O Irmão Marcolino é grato a Deus pelo ano vivenciado como consagrado religioso e diz que se sente a caminho como Maria fez ao partir em missão. Para ele foi gratificante este período vivenciado com o povo de Deus e agradeceu ao Padre Damião pela oportunidade, aos missionários que atuaram juntos, a Irmã Elieuda, o seminarista Rodolfo e missionário local, Sebastião.

sábado, 4 de abril de 2015

O dia em que as vozes cessaram

Estamos no Sábado Santo, dia do silêncio, da escuta, do reservar-se interiormente a fim de encontrarmos em nosso coração as respostas capazes de nos fazer compreender o emudecer que se deu quando Jesus morreu. Poderíamos fazer um exercício de se colocar na pessoa de Maria, a Mãe de Jesus; na pessoa do discípulo amado; na pessoa de José de Arimatéia, de Maria Madalena e de tantos outros... o que se passava em seus corações? Quais os meus sentimentos hoje, olhando para a morte de Jesus que é sem dúvida uma antecipação de nossa morte? Porque o silêncio é o protagonista deste dia?
Façamos uma reflexão a partir das palavras do Papa Emérito, Bento XVI, quando no ano de 2010 o mesmo fazia uma visita à Turim por ocasião da exposição do Santo Sudário. Acompanhemos quão bonito significado para o Sábado Santo.

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Queridos amigos!

Para mim, este é um momento muito esperado. Estive diante do Santo Sudário noutras ocasiões, mas desta vez vivo esta peregrinação e esta reflexão com intensidade particular: talvez porque o passar dos anos me torna ainda mais sensível à mensagem deste extraordinário Ícone; talvez, diria sobretudo, porque estou aqui como Sucessor de Pedro e trago no meu coração toda a Igreja, aliás, toda a humanidade. Dou graças a Deus pelo dom desta peregrinação e também pela oportunidade de partilhar convosco uma breve meditação, que me foi sugerida pelo subtítulo desta solene Ostensão: "O mistério do Sábado Santo".

Pode-se dizer que o Sudário é o Ícone deste mistério, o Ícone do Sábado Santo. De fato, é um lençol sepulcral, que envolveu o corpo de um homem crucificado totalmente correspondente a quanto os Evangelhos nos dizem de Jesus, o qual, crucificado por volta do meio-dia, expirou aproximadamente às três da tarde. Ao anoitecer, porque era Parasceve, isto é a vigília do sábado solene de Páscoa, José de Arimateia, um rico e competente membro do Sinédrio, pediu corajosamente a Pôncio Pilatos para poder sepultar Jesus no seu sepulcro novo, que tinha sido escavado na rocha a pouca distância do Gólgota. Ao obter a autorização, comprou um lençol e, deposto o corpo de Jesus da cruz, envolveu-o com o lençol e colocou-o naquele túmulo (cf. Mc 15, 42-46). Assim refere o Evangelho de Marcos, e com ele concordam os outros Evangelistas. A partir daquele momento, Jesus permaneceu no sepulcro até ao alvorecer do dia seguinte que era sábado, e o Sudário de Turim oferece-nos a imagem de como era o seu corpo estendido no túmulo durante aquele tempo, que foi breve cronologicamente (cerca de um dia e meio), mas imenso, infinito no seu valor e significado.

O Sábado Santo é o dia do escondimento de Deus, como se lê numa antiga Homilia: "O que aconteceu? Hoje sobre a terra há um grande silêncio, grande silêncio e solidão. Grande silêncio porque o Rei dorme... Deus morreu na carne e desceu para abalar o reino dos infernos" (Homilia sobre o Sábado Santo, pg 43, 439). No Credo, nós professamos que Jesus Cristo "padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia".

Queridos irmãos, no nosso tempo, especialmente depois de ter atravessado o século passado, a humanidade tornou-se particularmente sensível ao mistério do Sábado Santo. O escondimento de Deus faz parte da espiritualidade do homem contemporâneo, de maneira existencial, quase inconsciente, como um vazio no coração que se foi alargando cada vez mais. No final do século XIX, Nietzsche escreveu: "Deus está morto! E quem o matou fomos nós!". Esta célebre expressão, observando bem, é tomada quase ao pé da letra da tradição cristã, frequentemente a repetimos na Via-Sacra, talvez sem nos darmos conta plenamente do que dizemos. Depois de duas guerras mundiais, os lager e os gulag, Hiroshima e Nagasaki, a nossa época tornou-se um Sábado Santo em medida cada vez maior:  a escuridão desse dia interpela todos os que se questionam sobre a vida, de modo particular interpela a nós, crentes. Também nós somos responsáveis por esta escuridão.

E, no entanto, a morte do Filho de Deus, de Jesus de Nazaré tem um aspecto oposto, totalmente positivo, fonte de consolação e de esperança. Isto faz-me pensar no fato de que o Santo Sudário se comporta como um documento "fotográfico", dotado de um "positivo" e de um "negativo". Com efeito, é exatamente assim: o mistério mais obscuro da fé, ao mesmo tempo, é o sinal mais luminoso de uma esperança que não tem confim. O Sábado Santo é a "terra de ninguém" entre a morte e a ressurreição, mas nesta "terra de ninguém" entrou Um, o Único, que a atravessou com os sinais da sua Paixão pelo homem: "Passio Christi. Passio hominis". O Sudário fala-nos precisamente deste momento, está a testemunhar aquele intervalo único e irrepetível na história da humanidade e do universo, no qual Deus, em Jesus Cristo, partilhou não só o nosso morrer, mas inclusive o nosso permanecer na morte. A solidariedade mais radical.

Naquele "tempo-além-do-tempo" Jesus Cristo "desceu à mansão dos mortos". O que significa esta expressão? Quer dizer que Deus, feito homem, chegou até ao ponto de entrar na solidão extrema e absoluta do homem, onde não chega raio de amor algum, onde reina o abandono total sem palavra de conforto alguma:  "mansão dos mortos". Jesus Cristo, permanecendo na morte, ultrapassou a porta desta solidão última para nos guiar também a nós a ultrapassá-la com Ele. Todos nós sentimos algumas vezes uma sensação assustadora de abandono, e o que mais nos assusta é precisamente isto, como quando somos crianças, temos medo de estar sozinhos no escuro e só a presença de uma pessoa que nos ama pode dar-nos segurança. Aconteceu exatamente isto no Sábado Santo: no reino da morte ressoou a voz de Deus. Sucedeu o impensável: ou seja, que o Amor penetrou "na mansão dos mortos": também no escuro extremo da solidão humana mais absoluta nós podemos escutar uma voz que nos chama e encontrar alguém que nos pega pela mão e nos conduz para fora. O ser humano vive porque é amado e pode amar; e se até no espaço da morte penetrou o amor, então também lá chegou a vida. Na hora da extrema solidão nunca estaremos sozinhos: "Passio Christi. Passio hominis".

Este é o mistério do Sábado Santo! Exatamente do escuro da morte do Filho de Deus brilhou a luz de uma esperança nova: a luz da Ressurreição. E eis que, parece-me, olhando para este Santo Lençol com os olhos da fé se perceba algo desta luz. Com efeito, o Sudário foi imerso naquela escuridão profunda, mas ao mesmo tempo é luminoso; e eu penso que se milhões e milhões de pessoas vêm venerá-lo – sem contar quantos o contemplam através das imagens – é porque nele não vêem só a escuridão, mas também a luz; não tanto a derrota da vida e do amor, mas ao contrário, a vitória, a vitória da vida sobre a morte, do amor sobre o ódio; vêem a morte de Jesus mas entrevêem a sua Ressurreição; agora a vida pulsa no seio da morte, porque lá inabita o amor. Este é o poder do Sudário: do rosto deste "Homem do sofrimento", que traz em si a paixão do homem de todos os tempos e lugares, também as nossas paixões, os nossos sofrimentos, as nossas dificuldades, os nossos pecados – "Passio Christi. Passio hominis" – promana uma solene majestade, um senhorio paradoxal. Este rosto, estas mãos e estes pés, este lado, todo este corpo fala, ele próprio é uma palavra que podemos escutar no silêncio. De que modo fala o Sudário? Fala com o sangue, e o sangue é a vida! O Sudário é um Ícone escrito com o sangue; sangue de um homem flagelado, coroado de espinhos, crucificado e ferido no lado direito. A imagem impressa no Sudário é a de um morto, mas o sangue fala da sua vida. Cada traço de sangue fala de amor e de vida. Especialmente a mancha abundante próxima do lado, feita de sangue e água derramados abundantemente de uma grande ferida causada por um golpe de lança romana, aquele sangue e aquela água falam de vida. É como uma fonte que murmura no silêncio, e nós podemos ouvi-la, podemos escutá-la, no silêncio do Sábado Santo.


Queridos amigos, louvemos sempre o Senhor pelo seu amor fiel e misericordioso. Partindo deste lugar santo, levemos nos olhos a imagem do Sudário, levemos no coração esta palavra de amor e louvemos a Deus com uma vida plena de fé, de esperança e de caridade. Obrigado.

Fonte: Santa Sé
Sugestão de pauta: Madre Annalisa Galli

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Paixão de Cristo, paixão pela humanidade.

Dentro do mistério de nossa Fé se encontram motivações e profundos momentos com Deus para que não venhamos a desistir da caminhada. Encontramo-nos hoje na Sexta-feira da Paixão conhecida pelos antigos como a “Grande Sexta-feira” ou “Sexta-feira Maior”. Nela contemplamos as trevas que se encontrou a humanidade no momento da “Dor Maior”, da morte de Jesus pregado na Cruz. Quanta escuridão se abateu na vida dos homens e mulheres que acreditavam que Jesus iria mudar a história de escravidão, de dor e miséria em que viviam. A morte de Jesus era sem dúvida, a “Derrota Maior”. Pobres... Não sabiam eles o que sentia o coração e nem imaginavam que Jesus estava certo quando dizia que veio para libertar o povo da escravidão, para recuperar a vista aos cegos, fazer os coxos andarem e os surdos voltarem a ouvir e falar, a dar sentido as leis que amordaçavam o povo no pecado. De fato, Ele não veio abolir Lei nenhuma, mas dar novo significado. Talvez esse fosse, e é ainda hoje o motivo de muitas vezes se achar difícil caminhar com Jesus, porque a sua pedagogia é fazer o contrário.

Fazendo o percurso da “Via-Dolorosa”, queremos fazê-la na companhia de quem muito experimentou a incompreensão, a rejeição, a dor e o sofrimento, mas muito se uniu à Cruz tomando parte dela no ombro, deleitando-se sobre o madeiro sagrado a fim de diminuir a dor de Jesus. Caminhemos aos passos da reflexão e oração feita pela Bem-Aventurada Mastena na Via-Sacra do amor e cumplicidade.

Mastena foi uma discípula de Jesus contemplando os mistérios da dor de Jesus e buscando em sua vida manter os olhos fixos no Rosto de Jesus, um olhar não somente externo, mas, sobretudo interior, penetrante.
Ela soube identificar a solidão de Jesus diante da humilhação, chegando a desejar chegar bem perto d’Ele e tomar também a sua Cruz e manter-se confiante na certeza de que o seu braço a ajudaria a caminhar.

Mastena teve um olhar místico sobre esse trajeto doloroso. Na quarta estação, contemplou o sofrimento da Mãe de Jesus e pôde como que ouvir de Jesus: “Eis minha mãe. Entrego-a a ti. Contemplando-a, aprenderás as sublimes lições que ela te dá e junto com ela vai em frente, à caminho do Calvário.”

Outra estação muito forte para Mastena se encontra na cena de Verônica enxugando o Rosto de Jesus e nele revelando-se a Face banhada em sangue. Nesta, o Senhor desejou ver esculpida no seu coração a imagem do seu Rosto desfigurado. “Impresso em ti, o teu peito receberá novo esplendor e o teu coração se dilatará, se inflamará e desejará somente ver e contemplar o meu Rosto”.

O desejo do esquecimento foi muito presente na vida de Madre Mastena, em outra ocasião, ela mesma compunha uma ladainha da humildade, desejando ser a menor, a rejeitada e esquecida. Para livra-se da vaidade e da atenção a ela mesma, preferiu entregar-se ao escondimento na Face de Jesus, seu amado – “esquece a ti mesmo e consagra a tua vida para consolar a humanidade em aflição”.

O despojamento, outro sinal de resignação e inclinação interior. Quando Jesus foi despojado de suas vestes, deixando-o assim na mais forte humilhação, Mastena coloca-se como servidora da santa pobreza. Apresentando-se ao Cristo nu, Mastena entrega sua própria vontade, das suas paixões e desejos. Um sinal de união à pobreza de Cristo.

O ápice do sofrimento de Jesus se deu no alto da Cruz. O que para os judeus deveria ser o lugar do reinado, da realeza e da coroação do Rei dos judeus, tornara-se o lugar do esquecimento, do calvário, da morte. Mastena encontra ali, o lugar do elo com o seu amado.


O encontro com a Face do Senhor foi o caminho percorrido por Madre Mastena. Se sabemos que Jesus suportou duras penas até a Cruz, o que nós não havemos de suportar para chegar até ele? Madre Mastena não se encontrou em nenhum outro personagem a não ser o do próprio Cristo, servo sofredor. Isso nos aponta que a meta de cada um de nós é seguir o Cristo, fazendo como ele mesmo fez, mas também sendo sensíveis ao próximo assim como foi Verônica e o Cireneu.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Jesus e Mastena - cingidos com o avental - Reflexão para a Quinta-feira Santa

“Pois, quem é o maior: quem está à mesa ou quem ou quem está servindo? Não é aquele que está à mesa? Eu, porém, estou no meio de vocês como aquele que serve” (Lc 22, 27)

Iniciando este tempo de graça que é o Tríduo Pascal, nele fazemos mais intensamente, memória da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. É interessante como Jesus inicia este percurso de Cruz e Luz com um gesto desconcertante, incomum, e por que não dizer, inesperado.
Jesus sabia que sua hora era chegada, e nós sabemos, que as “últimas horas” de uma pessoa (quando esta têm consciência de que sua vida terrena está chegando ao fim) são marcadas de muita profundidade e de essencialidade, não há tempo a perder... E Jesus não perde tempo! Na última refeição ele quis deixar um legado aos seus discípulos e a sua Igreja. O legado do SERVIÇO, fazendo questão de ressaltar: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13, 14-15).
Neste itinerário serviçal, deixado a nós pelo Senhor, ajude-nos Mastena, a mulher do serviço que tendo escutado estas palavras do seu Esposo: “...também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 13, 14), imitou na vida esses gestos, tão desconcertantes e de uma kenosis profunda. Salve Mastena, mulher do lava-pés, mulher que fez nascer na Igreja um carisma serviçal, mulher que, tendo cingindo-se com o avental, fez sorrir no rosto de tantos irmãos a Face sofrida de Jesus que espera de nós reparação e amor. Acompanhemos com os olhos da fé estes gestos que ainda hoje nos desconcertam:
- Jesus levantou-se da mesa... O que significa para nós “levantar-se”? Nem sempre é fácil levantar, mais fácil é permanecer sentados, no nosso comodismo, nas nossas seguranças. Levantar é dinamismo! Jesus é dinâmico e nossa fundadora (inspiradora) também, quantas vezes não levantou madre Mastena e não me refiro apenas a um estar de pé, pois isso todos fazemos com facilidade, mas refiro-me a um estar disponível. Madre Mastena escutou e entendeu o convite do Cântico dos cânticos: “Levanta-te, minha amiga, minha formosa, e vem! Eis que o inverno já passou, cessaram as chuvas e se foram. Da figueira brotam os primeiros figos, exalam perfume as videiras em flor” (Ct 2, 10-11.13).
- Jesus tirou o manto... Tirar o manto não é fácil, pois requer desapego. Desapego de tudo o que atrapalha principalmente do status que é próprio das “vestes” que todos os dias colocamos para esconder quem somos. Para servir, precisamos despojar-nos de nossas certezas. Quantas vezes Mastena também despojou-se, deixou de lado as suas vestes? Diante de tantas calúnias quantas vezes inclinou-se deixando de lado suas certezas e confiou em Deus. Foram tantas as vezes que retirou o manto, não o que cobria o corpo, mas o que cobria os olhos, a “venda de pano” que não permitia que Jesus fosse enxergado nos irmãos.
- Jesus tomou uma toalha... Tomar a toalha é ter consciência dos meios que se deve usar para alcançar a finalidade desejada. Quais os meios que usamos para o nosso serviço? Já nos acostumamos com a missão ao ponto de realizá-la de qualquer jeito, ou temos a consciência que cada missão tem seus meios e se queremos alcançar um resultado temos de buscá-los? Madre Mastena, quando o assunto era servir, foi uma mulher incansável que buscava tudo que estivesse ao seu alcance para não ver os irmão sofrerem, pois sabia ela que ali estava Jesus.  Até mesmo os poderosos ela enfrentava nos períodos de guerra para não ver sofrer seus pequeninos. Uma mulher que na vida tomou tantas toalhas...
- Jesus cingiu-se com a toalha... Cingir-se é estar em constante estado de vigilância. Não podemos nos cansar de servir e estar cingido nos ajuda a recordar do nosso compromisso com Deus, com sua Igreja e com o seu povo. Mastena sabia disso, virgem prudente e cingida! Sempre com a lâmpada acessa e atenta às necessidades dos outros. Esquecia até mesmo de si para que o outro fosse amado e lembrado. Não faltou óleo em sua lâmpada, não faltou toalha na cintura, não faltou disponibilidade e amor.
- Jesus derramou água na bacia... O que estamos derramando em nossas bacias? De quê estão cheias? Jesus não derrama simplesmente água, mas muito amor, pois sem este era impossível a realização deste gesto serviçal. Como compreender, sem o amor, um mestre que se levanta, que tira o manto, que toma uma toalha e cinge-se com ela e depois enche uma bacia de água, certamente a esta altura os discípulos já imaginavam o que estava por vir e por isso deviam estar surpresos. Só o amor mesmo é capaz de explicar tal gesto. Madre Mastena também foi mestra nisso, sabia como, quando e de quê “encher a bacia”. Recordo-me de um fato em que ela manda irmãs irem na horta colherem as melhores hortaliças para enviar à casa paroquial de um padre que não a aceitava muito e que por isso a perseguia. Como entender tal gesto sem o amor? Somente quem tem a bacia cheia de amor que o deixa transbordar!
- Jesus pôs-se a lavar os pés dos discípulos... Quanta humildade! Me surpreende esta atitude de Jesus, fez-se escravo, servo, pois não era este o papel do Mestre. Quantas vezes estamos presos em nossos papéis, nos títulos que conquistamos e não queremos descer... E Deus desceu quando se fez carne e tantas outras vezes a Palavra nos revela um Deus que desce. Recordo-me a passagem da pecadora pública pega em adultério, todos a condenavam de pé e amparados pela lei de então, e Jesus se faz um com ela e inclina-se, Jesus desce a ama-a. Esse amor mudou a vida daquela mulher... Quantas vidas seriam mudadas a começar da nossa se aprendêssemos a descer. Madre Mastena desceu... Nunca buscou privilégios! Motivos tinha de sobra, mas nunca os quis. Foi a mulher do lava pés que fez sorrir o Rosto de Jesus. Na vida não fez outra coisa senão servir.
- Jesus enxuga os pés com a toalha... Não podemos parar na metade do serviço, às vezes nos empolgamos com algo e começamos a todo vapor e com todo entusiasmo, mas quando as coisas vão ficando difíceis vamos desanimando e deixando de lado. Jesus nos ensina a assumir a missão o serviço até a última conseqüência, mesmo que nos custe. Mastena também nos ensina isso. Não basta apenas lavar, retirar a sujeira... é preciso devolver à pessoa a sua dignidade. Fazer sorrir a Face de Jesus na face do irmão é não parar no caminho, é seguir na certeza de que estamos cumprindo a nossa missão, lavando os pés, mas também secando-os.
Para nós, Família Religiosa da Sagrada Face, que abraçamos o carisma deixado por nossa Fundadora/Inspiradora, uma certeza nos resta: “Propagar, Reparar e Restabelecer”, não é outra coisa senão, lavar os pés dos irmãos. É esta a missão que o Senhor nos confia, a nós que somos seus amigos, discípulos missionários, e isso nos fará verdadeiramente felizes, pois “Felizes os escravos que o senhor achar vigiando. Eu vos asseguro: Ele cingirá o avental, fará com que se ponham à mesa e os servirá. Se chegar à meia noite ou às três da madrugada, e assim os encontrar, felizes serão eles!” (Lc 12, 37-38).
Que nestes dias o Senhor do serviço, por intercessão da discípula do serviço (Mastena) nos conceda a graça de descer sempre, pois o maior de todos fez-se o menor para nos dar o exemplo! Que Deus nos abençoe!
Dannilo Luiz
Noviço dos Religiosos da S. Face
Fortaleza-CE